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VENTURE LAB (disciplina de pós-IPOG): entre inovações e formas de gestão onde está a cultura humana?

  • Lu_rsr
  • 6 de set. de 2023
  • 4 min de leitura

Material desenvolvido para atividade prévia - módulo 12 - Master em NeuroArquitetura IPOG

Por Luciana R. S. Rodrigues em 03/02/2023


Quando pensamos em aplicações da neurociência, independente do campo aplicado, passamos a considerar como base o desenvolvimento humano, a essência desse ser vivo, animal, social; o futuro de uma espécie e seu Habitat. Não apenas a saúde física e mental de um indivíduo, em desempenho equilibrado aos seus processos fisiológicos, cognitivos e emocionais, como também a saúde de um coletivo, em relacionamento existencial aos seres sociais, torna-se fundamento de uma cultura: a cultura Humana. Como, então, seguimos com paradigmas que adoeceram a nossa cultura? A ideia de desenvolver um negócio quando, para este existir, migramos para fundamentos capitalistas? Numéricos de precificação e lucro; cronogramas e logísticas. Quando, nesses processos, consideramos os imprevistos, os fenômenos naturais, os estímulos, a neuroplasticidade, as valias e faltas do presente?


Olhares para inovações e formas de gestão entram em nosso cotidiano como remédios para as dores de um mercado saturado de padrões e tecnologias, esvaziado de cultura humana. Um comércio carente de sentido e vida, de locais de trocas e vivências naturais. Com si próprio, com os outros, com o ambiente construído, com a Natureza, com o ecossistema. Falamos em diferenciações de mercado – reforçando um destaque egocêntrico e alimentando uma competividade exaustiva –, ao mesmo tempo em que falamos sobre acessibilidade universal – enaltecendo nossa diversidade de culturas, condições e pluralidade de seres. Contradições que fechamos os olhos pois são complexas demais para nosso pensamento capitalista e perturbadoras demais para nossa sociedade fragilizada.


É mais confortável, embora – por vezes – pareça até mais doloroso, nos submetermos aos dias cronometrados por uma divisão exata daquilo que mais incorpóreo nós temos: o tempo. Lutamos contra nossa própria biologia – respeito à variação da luz do sol e da claridade da lua e das estrelas – para alcançarmos materialidades que sufocam o presente e poluem o meio em que vivemos e do qual, igualmente, dependemos. Excessos acumulados desde resíduos tecnológicos e desperdícios orgânicos – sem tempo e cuidado para retornarem aos seus estágios iniciais (novas fontes de matéria prima e cadeia alimentar) – até a exaustão cognitiva – para nos superarmos diariamente, a cada segundo, a respeito de única ou poucas especificidades (quando somos complexos e interconectados por variados estímulos e processos internos simultâneos). Nos deparamos com uma contemporaneidade despreparada para todas as consequências do instantâneo prazer de imediatismos e da invejável glória de privilégios.


Alvo significa fim. Atingir com possibilidade de machucar ou até matar; cercar, limitar. Não existe alvo quando se quer prosperar pois está intrínseco na prosperidade o fenômeno de eternos começos, da continua aprendizagem, das oportunidades experienciais. Para além da gestão e inovação, existe a simplicidade de quem somos e da essência do nosso viver. O capitalismo educou nossa mente para a astúcia da mais-valia*. Onde nos fixamos em definir públicos-alvo para vendermos, muitas vezes, para quem nem necessita / quer comprar (na íntegra) nossos produtos ou serviços. Quando, mais uma vez, pelo que a neurociência nos vem demonstrando, nosso fundamento cultural é Humano e, não, precificado. É de valia emocional e, não, capital. Não necessitamos de vendas, de lucros, de excedentes se temos uns aos outros para nos ampararmos e evoluirmos em conjunto. Não se trata de ganhos e perdas, melhores e piores, mais e menos preparados. Nossa vida, nosso ecossistema tratam de trocas. Nossa real necessidade é a de subsistência. Alimento, abrigo e relacionamento. Do corpo e da mente. Da alma coletiva. Arquitetura e Urbanismo nada mais são do que nosso exoesqueleto humano-meio-coletivo, nosso estado consolidado, nossas percepções de proteção, conexão, relatividade, fluxo, energia e temporalidade. Os produtos e serviços que preenchem nossas faltas são aqueles que nos complementam, que são nossos cúmplices de vivências, que nos tornam iguais e unidos mesmo diante de nossas personalidades particulares – e, não, os que nos aprisionam aos valores do consumismo e do individualismo, muito menos os que nos submetem a concorrências e diferenciações forçadas para continuidade de sistema econômico que nos adoece.


Para que um exoesqueleto exerça sua funcionalidade, é necessário haver coerência com os movimentos dos músculos que ele sustenta. Em metáfora, anteriormente citada, à Arquitetura e ao Urbanismo, é necessário compreendermos as percepções e os comportamentos humanos (movimentos) para fortalecermos seus potenciais de desenvolvimento (músculos). Com isso, arquitetos e urbanistas podem oferecer auxílio na compreensão dos estímulos (positivos e negativos) gerados pelos ambientes físicos do contexto inserido – atual e real – de quem lhes procura (seja de esfera individual, coletiva, privada ou pública). Da mesma forma, podem orientar possibilidades de favorecer experiencias espaço-emocionais (a partir de estímulos ambientais) mais saudáveis às intenções, perfis e personalidades envolvidas à afetação contextual (considerando demais humanos, demais seres vivos, demais elementos, meio ambiente). Ambas as situações partindo de levantamento, análise e compreensão profunda (valores, identidade, memórias, visões) de cada indivíduo que lhes procura e daqueles que possam vir a se influenciar com as intervenções propostas. Mais do que oferecer um serviço ou um produto, está nosso sentido de contribuição para com o mundo que nos confere uma vida. Em nosso melhor desempenho, reside o auxílio ao que nosso contexto nos solicita para nutrir o nosso ecossistema. Qualquer negócio que considere e alimente um ambiente acolhedor e colaborativo; que respeite os limites da biodiversidade e dos sistemas aos quais pertencemos e desenvolvemos; que visione a paz e a prosperidade da nossa espécie, do nosso Habitat, do nosso planeta e dos cosmos; que atente aos cuidados motivacionais e às virtudes de cada individuo afetado; que seja flexível, proativo e adaptável à falha, ao imprevisível e ao efêmero, discorre uma História de Sentido e trilha o Tempo de sua Existência.


*conceito utilizado por Karl Marx referindo-se ao processo de exploração da força de trabalho.

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